Transtorno Disfórico Pré-Menstrual
Resumo
O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) é uma condição médica grave que afeta entre 5% e 8% das mulheres em idade reprodutiva, distinguindo-se da Tensão Pré-Menstrual (TPM) por seus sintomas intensos e debilitantes.
Reconhecido no CID-11 (Código Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde – 11ª versão) o TDPM resulta de uma sensibilidade cerebral exacerbada aos hormônios reprodutivos, sem alterações nos níveis hormonais em si, causando desregulações nos sistemas de serotonina e GABA. Seu tratamento envolve antidepressivos, pílulas contraceptivas e mudanças no estilo de vida, sendo essencial o acompanhamento médico, preferencialmente por um psiquiatra.
Pontos principais
Diferença entre TPM e TDPM:
-
- TPM: Sintomas leves ou moderados, incômodos, mas não incapacitantes.
- TDPM: Sintomas graves e incapacitantes que afetam 5% a 8% das mulheres.
Reconhecimento médico:
-
- CID-11 (2022): Código GA34.41 valida o TDPM como uma doença médica legítima, distinta da TPM.
Causas:
-
- Sensibilidade cerebral aumentada aos hormônios reprodutivos.
- Alterações nos sistemas de serotonina e GABA.
- Predisposição genética como fator contribuinte.
Sintomas principais:
-
- Labilidade emocional, irritabilidade, depressão e ansiedade severas.
- Alterações comportamentais (dificuldade de concentração, mudanças de apetite e sono).
- Sintomas físicos (inchaço, dores articulares, fadiga).
Diagnóstico e tratamento:
-
- Diagnóstico baseado em critérios do CID-11 e DSM-5.
- Tratamentos incluem antidepressivos, mudanças no estilo de vida e, eventualmente, estabilizadores de humor.
- Acompanhamento psiquiátrico recomendado.
Se antes de menstruar você sofre com mudanças nas emoções e no comportamento, e percebe que o descontrole emocional afeta o convívio familiar ou profissional, a ponto de interferir seriamente em seu dia a dia, talvez o diagnóstico do que você está vivenciando não seja o de Tensão Pré-Menstrual (TPM), mas, sim, o de Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM), que é um transtorno psiquiátrico,
e não uma alteração hormonal.
A partir de 2022, o Código Internacional de Doenças (CID) passou a classificar o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) como uma enfermidade isolada, com um código próprio, — o GA34.41 —, diferenciando-o da Tensão Pré-Menstrual, a TPM.
Novas pesquisas revelam que o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual não é causado pelos hormônios femininos em si, que normalmente estão em níveis normais, mas pelo modo como o cérebro responde a esses hormônios. Há um aumento da sensibilidade do cérebro, que provoca alterações nos transmissores químicos e nas áreas responsáveis pelo humor e pela sensação geral de bem-estar. A boa notícia é que existem tratamentos eficazes.
A Tensão Pré-Menstrual (TPM)
Em praticamente 100% das mulheres que menstruam, as mudanças nos hormônios na segunda metade do ciclo causam alterações e geram sintomas que sinalizam a chegada da menstruação. Esses sintomas, para muitas, são passageiros, constituem um incômodo, mas não causam sofrimento significativo.
3 em cada 4 mulheres, aproximadamente, apresentam sintomas mais significativos, principalmente físicos, e algumas poucas percebem mudanças no humor, já com algum nível de sofrimento. Essas mulheres sofrem de Tensão Pré-Menstrual.
O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM)
5% a 8% das mulheres apresentam sintomas físicos e, especialmente, um descontrole considerável no comportamento e nas emoções, com sofrimento intenso e impacto negativo no convívio familiar e profissional. Esses sintomas são realmente incômodos e debilitantes. Tais mulheres sofrem de Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e precisam de tratamento especializado.
Infelizmente, algumas mulheres com TDPM pensam que sofrem de TPM e que devem suportar os sintomas como parte da vida, o que não é verdade.
O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) é um transtorno psiquiátrico, não um transtorno emocional ou psicológico.
A partir da 11ª edição do Código Internacional de Doenças, referência mundial publicada em 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) passou a ter seu próprio código, o GA34.41, validando o TDPM como um diagnóstico médico legítimo em todo o mundo, reconhecendo o crescente entendimento científico acerca dessa condição pouco divulgada, mas muito debilitante.
Essa inclusão do TDPM no CID-11 é significativa porque:
-
Reconhece o transtorno como uma condição médica legítima, que requer diagnóstico e tratamento adequados;
-
O TDPM (Transtorno Disfórico Pré-Menstrual) fica diferenciado da condição mais branda, conhecida como TPM (Tensão Pré-Menstrual);
- As pacientes que sofrem desse transtorno passam a ter seu sofrimento reconhecido e validado como doença, como condição médica que possui diagnóstico claro, baseado em evidências científicas, para explicar os sintomas e o tratamento condizente com a enfermidade.
Causas do Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e da Tensão Pré-Menstrual (TPM)
Acredita-se que as pessoas que sofrem de TDPM e de TPM têm uma sensibilidade aumentada aos hormônios reprodutivos nas duas semanas que antecedem o início da menstruação. Essa sensibilidade exagerada leva a alterações nos neurotransmissores — os transmissores químicos do cérebro — e nas áreas responsáveis pelo humor e pela sensação geral de bem-estar. Na TDPM essas alterações na bioquímica do cérebro levam a sintomas extremamente desagradáveis.
As causas e o mecanismo dessa sensibilidade aumentada ainda são objetos de estudo. Pesquisadores descobriram que as mulheres com TDPM tem um complexo genético alterado, o que leva o corpo a dar uma resposta exagerada aos hormônios.
Existem alguns fatos já comprovados que ajudam a compreender a TDPM:
-
Os níveis de hormônio são habitualmente normais nas mulheres que sofrem de TDPM;
-
A explicação, então, não reside apenas nos hormônios em si, mas nos efeitos que eles causam no cérebro de algumas mulheres;
- As mulheres portadoras de TDPM mostram uma resposta cerebral anormal à alopregnanolona, um subproduto, um metabólito dos hormônios reprodutivos. Em outras palavras, a alteração está no cérebro, que recebe os hormônios e seus derivados, e não nas glândulas hormonais;
-
As mulheres portadoras de TDPM mostram funcionamento alterado dos sistemas de serotonina e GABA do cérebro ao longo do ciclo menstrual;
-
Flutuações nos níveis de serotonina, um transmissor químico cerebral que tem papel fundamental nos estados de humor, podem desencadear tanto a TDPM quanto a TPM. Quantidades insuficientes de serotonina podem contribuir para a depressão antes da menstruação, bem como para alterações no apetite, no sono e na disposição, gerando cansaço.
-
Embora a depressão sozinha não cause os sintomas pré-menstruais, algumas mulheres são portadoras de depressão, o que agrava o quadro.
Em suma, evidências crescentes indicam que o TDPM é causado por uma diferença biológica do cérebro, e pode ser tratado por meio de intervenções biológicas. Essa evidência biológica justifica sua inclusão na CID-11 como transtorno médico.
Sintomas do Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e da Tensão Pré-Menstrual (TPM)
Sintomas da Tensão Pré-Menstrual (TPM)
A lista de possíveis sinais e sintomas da TPM é longa. Só para se ter uma ideia, a Sociedade Internacional de Transtornos Pré-Menstruais listou mais de 150 sintomas diferentes. Mas, para simplificar, a maioria das mulheres experimenta alguns dos problemas mencionados abaixo:
Sinais e sintomas físicos na TPM
- Dores articulares ou musculares
- Dor de cabeça
- Cansaço/fadiga
- Ganho de peso relacionado à retenção de líquidos, “inchaço”
- Sensibilidade dolorosa nas mamas
- Aparecimento de acne
- Inchaço abdominal
- Prisão de ventre ou diarreia
- Intolerância ao álcool
Sinais e sintomas emocionais e comportamentais na TPM
- Mudanças de humor, irritabilidade ou raiva
- Tristeza sem motivo; humor depressivo
- Crises de choro
- Tensão, inquietação ou ansiedade
- Dificuldade para adormecer; insônia
- Dificuldade para manter a concentração
- Mudanças de apetite e desejos por comida, muitas vezes por um tipo específico de comida
- Retraimento social
- Mudança na libido, para mais ou para menos
Sintomas do Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM)
Em geral, fala-se que a TDPM é uma TPM mais grave. A resposta é sim e não. O problema é mais complexo e exige diagnóstico cuidadoso.
Os critérios diagnósticos do novo código de doenças — a 11ª edição do CID — têm consonância com a definição de TDPM descrita no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, publicado pela Associação Psiquiátrica Americana (5ª Edição; DSM-5). São critérios diagnósticos bem definidos e que a maioria dos psiquiatras utiliza. Vou resumi-los:
Critérios, A, B e C para Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM)
O primeiro critério, chamado de “A”, descreve como ocorrem os sintomas. Os outros dois critérios, B e C, relatam quais são os sintomas. Vamos aos detalhes:
Critério A (como ocorrem os sintomas): Os sintomas ocorrem na maioria dos ciclos menstruais, com pelo menos cinco sintomas presentes na semana final antes do início da menstruação. Esses sintomas começam a melhorar poucos dias depois do início da menstruação e tornam-se mínimos ou ausentes na semana após a menstruação.
Critério B (quais são os sintomas): Ao menos um dos sintomas abaixo deve estar presente:
B.1 Labilidade (instabilidade emocional), mudanças de humor acentuada, como sentir-se repentinamente triste ou com sensibilidade aumentada, especialmente à rejeição;
B.2 Irritabilidade ou raiva acentuadas ou aumento nos conflitos com pessoas;
B.3 Tristeza, depressão acentuada com sentimentos de desesperança ou pensamentos autodepreciativos;
B.4 Ansiedade, tensão ou irritabilidade acentuadas, sensação de estar no limite.
Critério C (quais são os sintomas que complementam o critério B): Se ao menos um dos sintomas do critério B estiver presente, deve-se somá-lo com os sintomas do critério C, para saber se totalizam 5 ou mais sintomas.
C.1 Redução no interesse pelas atividades habituais, como trabalho, passatempos, amigos ou escola;
C.2 Dificuldade de se concentrar;
C.3 Cansaço fácil, desânimo, preguiça ou falta de energia;
C.4 Alteração intensa nos hábitos alimentares: comer em excesso ou perder o apetite; desejo exacerbado por alimentos específicos;
C.5 Falta de sono ou excesso de sonolência;
C.6 Sensação de estar sobrecarregada ou fora do controle;
C.7 Sensibilidade ou inchaço das mamas, dor articular ou muscular, sensação de “inchaço” ou ganho de peso.
Como interpretar:
Se as condições descritas no critério A estiverem presentes, e se a mulher experimentar ao menos cinco sintomas ao somar os critérios B e C, há probabilidade de que esteja ocorrendo o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM). Nesse caso, uma consulta com um psiquiatra é altamente recomendável.
Além dos indícios mencionados, o psiquiatra também verificará se os sintomas não são um agravamento de outros transtornos psiquiátricos, como um transtorno depressivo maior, o transtorno de pânico, o transtorno depressivo persistente (distimia), o transtorno bipolar ou um transtorno da personalidade. O TDPM pode ocorrer ao mesmo tempo em quaisquer desses transtornos.
Paralelamente, o psiquiatra se certificará se os sintomas não são resultado de alguma substância, como drogas ou medicamentos, ou ainda devido a outras condições médicas, como os transtornos de tiroide.
Quem tem risco aumentado para o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e para a Tensão Pré-Menstrual (TPM)?
Como vimos, a genética e a bioquímica do cérebro desempenham papel importante no transtorno. Assim, não é de se estranhar que mulheres com histórico familiar de TPM ou TDPM, ou de outros transtornos psiquiátricos, tenham risco aumentado. A história pessoal de depressão pós-parto parece estar relacionada com maior chance de desenvolver tanto a TPM quanto a TDPM.
Hábitos de vida ruins, como sedentarismo ou tabagismo, favorecem o aparecimento e pioram o quadro.
Tratamento do Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e da Tensão Pré-Menstrual (TPM)
A rigor, qualquer médico pode tratar das duas síndromes. No entanto, existem detalhes em que o conhecimento de um especialista pode fazer muita diferença.
Se no Transtorno Pré-Menstrual (TPM) a avaliação e o acompanhamento de um psiquiatra são recomendáveis, mas não imprescindíveis, no Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) essa avaliação é essencial.
Substâncias frequentemente utilizadas
Antidepressivos
Os antidepressivos, especialmente os Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina, são o principal grupo de medicamentos usados para tratar o TDPM.
Esses medicamentos podem ser prescritos durante todo o mês ou apenas no período entre a ovulação e o início da menstruação, conforme avaliação clínica. Idealmente, devem ser indicados por psiquiatras, que possuem formação específica para orientar sobre o uso e os possíveis efeitos adversos.
Estabilizadores de humor
Em casos selecionados, os estabilizadores de humor podem ser incluídos no tratamento. Esses medicamentos são especialmente úteis em quadros onde os sintomas emocionais e comportamentais são mais intensos, como irritabilidade severa ou episódios de labilidade emocional significativos. Sua prescrição requer avaliação criteriosa, geralmente feita por um psiquiatra, para garantir a escolha adequada e o monitoramento necessário.
FAQ – Perguntas Frequentes
O que é o TDPM?
O TDPM é uma condição médica distinta da TPM, com sintomas emocionais, comportamentais e físicos graves, que afetam seriamente a qualidade de vida na fase pré-menstrual.
Como diferenciar TPM de TDPM?
A TPM é mais comum, com sintomas leves e passageiros, enquanto o TDPM é grave, afetando cerca de 5% a 8% das mulheres, interferindo no trabalho, nas relações e no bem-estar geral.
Quais são os sintomas mais comuns do TDPM?
- Labilidade emocional e irritabilidade intensas.
- Depressão e sentimentos de desesperança.
- Ansiedade severa.
- Dificuldade de concentração, fadiga extrema, alterações no apetite e sono.
- Sensibilidade nas mamas e inchaço.
O que causa o TDPM?
Não é causado por níveis hormonais anormais, mas pela forma como o cérebro responde aos hormônios reprodutivos, envolvendo neurotransmissores como serotonina e GABA.
O TDPM é uma doença psicológica?
Não. O TDPM é uma condição biológica com efeitos psicológicos e emocionais intensos, reconhecida como uma doença médica no CID-11 desde 2022.
Quem está em maior risco de desenvolver TDPM?
Mulheres com histórico familiar de TPM ou TDPM e transtornos psiquiátricos, além de hábitos como sedentarismo e tabagismo.
Como é feito o diagnóstico do TDPM?
Baseia-se nos critérios do CID-11 e DSM-5, considerando a frequência e intensidade dos sintomas pré-menstruais e excluindo outras condições médicas ou psiquiátricas.
Quais são as opções de tratamento para TDPM?
- Antidepressivos (Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina).
- Estabilizadores de humor, quando necessário.
- Estilo de vida saudável (atividade física, alimentação equilibrada, evitar álcool e tabaco).
- Acompanhamento médico com psiquiatra.
O TDPM tem cura?
Não há cura definitiva, mas o tratamento adequado pode oferecer grande alívio e controle dos sintomas.
O que acontece se o TDPM não for tratado?
Os sintomas podem piorar, impactando gravemente o convívio social e a saúde mental, podendo levar a quadros de depressão severa.
Quando devo procurar ajuda médica?
Se os sintomas forem intensos o suficiente para interferir na qualidade de vida e não melhorarem com mudanças simples, é fundamental buscar orientação médica.
O que são o CID e o DSM?
- CID: O Código Internacional de Doenças, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é um sistema global de classificação de doenças usado para padronizar diagnósticos médicos. A versão atual é o CID-11, onde o TDPM foi incluído como enfermidade legítima (GA34.41).
- DSM: O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, produzido pela Associação Psiquiátrica Americana, fornece critérios detalhados para o diagnóstico de transtornos mentais. O TDPM também é reconhecido no DSM-5, sua versão mais recente.
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Transtorno Disfórico Pré-Menstrual
Resumo
O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) é uma condição médica grave que afeta entre 5% e 8% das mulheres em idade reprodutiva, distinguindo-se da Tensão Pré-Menstrual (TPM) por seus sintomas intensos e debilitantes.
Reconhecido no CID-11 (Código Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde – 11ª versão) o TDPM resulta de uma sensibilidade cerebral exacerbada aos hormônios reprodutivos, sem alterações nos níveis hormonais em si, causando desregulações nos sistemas de serotonina e GABA. Seu tratamento envolve antidepressivos, pílulas contraceptivas e mudanças no estilo de vida, sendo essencial o acompanhamento médico, preferencialmente por um psiquiatra.
Pontos principais
Diferença entre TPM e TDPM:
-
- TPM: Sintomas leves ou moderados, incômodos, mas não incapacitantes.
- TDPM: Sintomas graves e incapacitantes que afetam 5% a 8% das mulheres.
Reconhecimento médico:
-
- CID-11 (2022): Código GA34.41 valida o TDPM como uma doença médica legítima, distinta da TPM.
Causas:
-
- Sensibilidade cerebral aumentada aos hormônios reprodutivos.
- Alterações nos sistemas de serotonina e GABA.
- Predisposição genética como fator contribuinte.
Sintomas principais:
-
- Labilidade emocional, irritabilidade, depressão e ansiedade severas.
- Alterações comportamentais (dificuldade de concentração, mudanças de apetite e sono).
- Sintomas físicos (inchaço, dores articulares, fadiga).
Diagnóstico e tratamento:
-
- Diagnóstico baseado em critérios do CID-11 e DSM-5.
- Tratamentos incluem antidepressivos, mudanças no estilo de vida e, eventualmente, estabilizadores de humor.
- Acompanhamento psiquiátrico recomendado.
Se antes de menstruar você sofre com mudanças nas emoções e no comportamento, e percebe que o descontrole emocional afeta o convívio familiar ou profissional, a ponto de interferir seriamente em seu dia a dia, talvez o diagnóstico do que você está vivenciando não seja o de Tensão Pré-Menstrual (TPM), mas, sim, o de Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM), que é um transtorno psiquiátrico,
e não uma alteração hormonal.
A partir de 2022, o Código Internacional de Doenças (CID) passou a classificar o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) como uma enfermidade isolada, com um código próprio, — o GA34.41 —, diferenciando-o da Tensão Pré-Menstrual, a TPM.
Novas pesquisas revelam que o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual não é causado pelos hormônios femininos em si, que normalmente estão em níveis normais, mas pelo modo como o cérebro responde a esses hormônios. Há um aumento da sensibilidade do cérebro, que provoca alterações nos transmissores químicos e nas áreas responsáveis pelo humor e pela sensação geral de bem-estar. A boa notícia é que existem tratamentos eficazes.
A Tensão Pré-Menstrual (TPM)
Em praticamente 100% das mulheres que menstruam, as mudanças nos hormônios na segunda metade do ciclo causam alterações e geram sintomas que sinalizam a chegada da menstruação. Esses sintomas, para muitas, são passageiros, constituem um incômodo, mas não causam sofrimento significativo.
3 em cada 4 mulheres, aproximadamente, apresentam sintomas mais significativos, principalmente físicos, e algumas poucas percebem mudanças no humor, já com algum nível de sofrimento. Essas mulheres sofrem de Tensão Pré-Menstrual.
O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM)
5% a 8% das mulheres apresentam sintomas físicos e, especialmente, um descontrole considerável no comportamento e nas emoções, com sofrimento intenso e impacto negativo no convívio familiar e profissional. Esses sintomas são realmente incômodos e debilitantes. Tais mulheres sofrem de Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e precisam de tratamento especializado.
Infelizmente, algumas mulheres com TDPM pensam que sofrem de TPM e que devem suportar os sintomas como parte da vida, o que não é verdade.
O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) é um transtorno psiquiátrico, não um transtorno emocional ou psicológico.
A partir da 11ª edição do Código Internacional de Doenças, referência mundial publicada em 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) passou a ter seu próprio código, o GA34.41, validando o TDPM como um diagnóstico médico legítimo em todo o mundo, reconhecendo o crescente entendimento científico acerca dessa condição pouco divulgada, mas muito debilitante.
Essa inclusão do TDPM no CID-11 é significativa porque:
-
Reconhece o transtorno como uma condição médica legítima, que requer diagnóstico e tratamento adequados;
-
O TDPM (Transtorno Disfórico Pré-Menstrual) fica diferenciado da condição mais branda, conhecida como TPM (Tensão Pré-Menstrual);
- As pacientes que sofrem desse transtorno passam a ter seu sofrimento reconhecido e validado como doença, como condição médica que possui diagnóstico claro, baseado em evidências científicas, para explicar os sintomas e o tratamento condizente com a enfermidade.
Causas do Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e da Tensão Pré-Menstrual (TPM)
Acredita-se que as pessoas que sofrem de TDPM e de TPM têm uma sensibilidade aumentada aos hormônios reprodutivos nas duas semanas que antecedem o início da menstruação. Essa sensibilidade exagerada leva a alterações nos neurotransmissores — os transmissores químicos do cérebro — e nas áreas responsáveis pelo humor e pela sensação geral de bem-estar. Na TDPM essas alterações na bioquímica do cérebro levam a sintomas extremamente desagradáveis.
As causas e o mecanismo dessa sensibilidade aumentada ainda são objetos de estudo. Pesquisadores descobriram que as mulheres com TDPM tem um complexo genético alterado, o que leva o corpo a dar uma resposta exagerada aos hormônios.
Existem alguns fatos já comprovados que ajudam a compreender a TDPM:
-
Os níveis de hormônio são habitualmente normais nas mulheres que sofrem de TDPM;
-
A explicação, então, não reside apenas nos hormônios em si, mas nos efeitos que eles causam no cérebro de algumas mulheres;
- As mulheres portadoras de TDPM mostram uma resposta cerebral anormal à alopregnanolona, um subproduto, um metabólito dos hormônios reprodutivos. Em outras palavras, a alteração está no cérebro, que recebe os hormônios e seus derivados, e não nas glândulas hormonais;
-
As mulheres portadoras de TDPM mostram funcionamento alterado dos sistemas de serotonina e GABA do cérebro ao longo do ciclo menstrual;
-
Flutuações nos níveis de serotonina, um transmissor químico cerebral que tem papel fundamental nos estados de humor, podem desencadear tanto a TDPM quanto a TPM. Quantidades insuficientes de serotonina podem contribuir para a depressão antes da menstruação, bem como para alterações no apetite, no sono e na disposição, gerando cansaço.
-
Embora a depressão sozinha não cause os sintomas pré-menstruais, algumas mulheres são portadoras de depressão, o que agrava o quadro.
Em suma, evidências crescentes indicam que o TDPM é causado por uma diferença biológica do cérebro, e pode ser tratado por meio de intervenções biológicas. Essa evidência biológica justifica sua inclusão na CID-11 como transtorno médico.
Sintomas do Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e da Tensão Pré-Menstrual (TPM)
Sintomas da Tensão Pré-Menstrual (TPM)
A lista de possíveis sinais e sintomas da TPM é longa. Só para se ter uma ideia, a Sociedade Internacional de Transtornos Pré-Menstruais listou mais de 150 sintomas diferentes. Mas, para simplificar, a maioria das mulheres experimenta alguns dos problemas mencionados abaixo:
Sinais e sintomas físicos na TPM
- Dores articulares ou musculares
- Dor de cabeça
- Cansaço/fadiga
- Ganho de peso relacionado à retenção de líquidos, “inchaço”
- Sensibilidade dolorosa nas mamas
- Aparecimento de acne
- Inchaço abdominal
- Prisão de ventre ou diarreia
- Intolerância ao álcool
Sinais e sintomas emocionais e comportamentais na TPM
- Mudanças de humor, irritabilidade ou raiva
- Tristeza sem motivo; humor depressivo
- Crises de choro
- Tensão, inquietação ou ansiedade
- Dificuldade para adormecer; insônia
- Dificuldade para manter a concentração
- Mudanças de apetite e desejos por comida, muitas vezes por um tipo específico de comida
- Retraimento social
- Mudança na libido, para mais ou para menos
Sintomas do Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM)
Em geral, fala-se que a TDPM é uma TPM mais grave. A resposta é sim e não. O problema é mais complexo e exige diagnóstico cuidadoso.
Os critérios diagnósticos do novo código de doenças — a 11ª edição do CID — têm consonância com a definição de TDPM descrita no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, publicado pela Associação Psiquiátrica Americana (5ª Edição; DSM-5). São critérios diagnósticos bem definidos e que a maioria dos psiquiatras utiliza. Vou resumi-los:
Critérios, A, B e C para Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM)
O primeiro critério, chamado de “A”, descreve como ocorrem os sintomas. Os outros dois critérios, B e C, relatam quais são os sintomas. Vamos aos detalhes:
Critério A (como ocorrem os sintomas): Os sintomas ocorrem na maioria dos ciclos menstruais, com pelo menos cinco sintomas presentes na semana final antes do início da menstruação. Esses sintomas começam a melhorar poucos dias depois do início da menstruação e tornam-se mínimos ou ausentes na semana após a menstruação.
Critério B (quais são os sintomas): Ao menos um dos sintomas abaixo deve estar presente:
B.1 Labilidade (instabilidade emocional), mudanças de humor acentuada, como sentir-se repentinamente triste ou com sensibilidade aumentada, especialmente à rejeição;
B.2 Irritabilidade ou raiva acentuadas ou aumento nos conflitos com pessoas;
B.3 Tristeza, depressão acentuada com sentimentos de desesperança ou pensamentos autodepreciativos;
B.4 Ansiedade, tensão ou irritabilidade acentuadas, sensação de estar no limite.
Critério C (quais são os sintomas que complementam o critério B): Se ao menos um dos sintomas do critério B estiver presente, deve-se somá-lo com os sintomas do critério C, para saber se totalizam 5 ou mais sintomas.
C.1 Redução no interesse pelas atividades habituais, como trabalho, passatempos, amigos ou escola;
C.2 Dificuldade de se concentrar;
C.3 Cansaço fácil, desânimo, preguiça ou falta de energia;
C.4 Alteração intensa nos hábitos alimentares: comer em excesso ou perder o apetite; desejo exacerbado por alimentos específicos;
C.5 Falta de sono ou excesso de sonolência;
C.6 Sensação de estar sobrecarregada ou fora do controle;
C.7 Sensibilidade ou inchaço das mamas, dor articular ou muscular, sensação de “inchaço” ou ganho de peso.
Como interpretar:
Se as condições descritas no critério A estiverem presentes, e se a mulher experimentar ao menos cinco sintomas ao somar os critérios B e C, há probabilidade de que esteja ocorrendo o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM). Nesse caso, uma consulta com um psiquiatra é altamente recomendável.
Além dos indícios mencionados, o psiquiatra também verificará se os sintomas não são um agravamento de outros transtornos psiquiátricos, como um transtorno depressivo maior, o transtorno de pânico, o transtorno depressivo persistente (distimia), o transtorno bipolar ou um transtorno da personalidade. O TDPM pode ocorrer ao mesmo tempo em quaisquer desses transtornos.
Paralelamente, o psiquiatra se certificará se os sintomas não são resultado de alguma substância, como drogas ou medicamentos, ou ainda devido a outras condições médicas, como os transtornos de tiroide.
Quem tem risco aumentado para o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e para a Tensão Pré-Menstrual (TPM)?
Como vimos, a genética e a bioquímica do cérebro desempenham papel importante no transtorno. Assim, não é de se estranhar que mulheres com histórico familiar de TPM ou TDPM, ou de outros transtornos psiquiátricos, tenham risco aumentado. A história pessoal de depressão pós-parto parece estar relacionada com maior chance de desenvolver tanto a TPM quanto a TDPM.
Hábitos de vida ruins, como sedentarismo ou tabagismo, favorecem o aparecimento e pioram o quadro.
Tratamento do Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e da Tensão Pré-Menstrual (TPM)
A rigor, qualquer médico pode tratar das duas síndromes. No entanto, existem detalhes em que o conhecimento de um especialista pode fazer muita diferença.
Se no Transtorno Pré-Menstrual (TPM) a avaliação e o acompanhamento de um psiquiatra são recomendáveis, mas não imprescindíveis, no Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) essa avaliação é essencial.
Substâncias frequentemente utilizadas
Antidepressivos
Os antidepressivos, especialmente os Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina, são o principal grupo de medicamentos usados para tratar o TDPM.
Esses medicamentos podem ser prescritos durante todo o mês ou apenas no período entre a ovulação e o início da menstruação, conforme avaliação clínica. Idealmente, devem ser indicados por psiquiatras, que possuem formação específica para orientar sobre o uso e os possíveis efeitos adversos.
Estabilizadores de humor
Em casos selecionados, os estabilizadores de humor podem ser incluídos no tratamento. Esses medicamentos são especialmente úteis em quadros onde os sintomas emocionais e comportamentais são mais intensos, como irritabilidade severa ou episódios de labilidade emocional significativos. Sua prescrição requer avaliação criteriosa, geralmente feita por um psiquiatra, para garantir a escolha adequada e o monitoramento necessário.
FAQ – Perguntas Frequentes
O que é o TDPM?
O TDPM é uma condição médica distinta da TPM, com sintomas emocionais, comportamentais e físicos graves, que afetam seriamente a qualidade de vida na fase pré-menstrual.
Como diferenciar TPM de TDPM?
A TPM é mais comum, com sintomas leves e passageiros, enquanto o TDPM é grave, afetando cerca de 5% a 8% das mulheres, interferindo no trabalho, nas relações e no bem-estar geral.
Quais são os sintomas mais comuns do TDPM?
- Labilidade emocional e irritabilidade intensas.
- Depressão e sentimentos de desesperança.
- Ansiedade severa.
- Dificuldade de concentração, fadiga extrema, alterações no apetite e sono.
- Sensibilidade nas mamas e inchaço.
O que causa o TDPM?
Não é causado por níveis hormonais anormais, mas pela forma como o cérebro responde aos hormônios reprodutivos, envolvendo neurotransmissores como serotonina e GABA.
O TDPM é uma doença psicológica?
Não. O TDPM é uma condição biológica com efeitos psicológicos e emocionais intensos, reconhecida como uma doença médica no CID-11 desde 2022.
Quem está em maior risco de desenvolver TDPM?
Mulheres com histórico familiar de TPM ou TDPM e transtornos psiquiátricos, além de hábitos como sedentarismo e tabagismo.
Como é feito o diagnóstico do TDPM?
Baseia-se nos critérios do CID-11 e DSM-5, considerando a frequência e intensidade dos sintomas pré-menstruais e excluindo outras condições médicas ou psiquiátricas.
Quais são as opções de tratamento para TDPM?
- Antidepressivos (Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina).
- Estabilizadores de humor, quando necessário.
- Estilo de vida saudável (atividade física, alimentação equilibrada, evitar álcool e tabaco).
- Acompanhamento médico com psiquiatra.
O TDPM tem cura?
Não há cura definitiva, mas o tratamento adequado pode oferecer grande alívio e controle dos sintomas.
O que acontece se o TDPM não for tratado?
Os sintomas podem piorar, impactando gravemente o convívio social e a saúde mental, podendo levar a quadros de depressão severa.
Quando devo procurar ajuda médica?
Se os sintomas forem intensos o suficiente para interferir na qualidade de vida e não melhorarem com mudanças simples, é fundamental buscar orientação médica.
O que são o CID e o DSM?
- CID: O Código Internacional de Doenças, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é um sistema global de classificação de doenças usado para padronizar diagnósticos médicos. A versão atual é o CID-11, onde o TDPM foi incluído como enfermidade legítima (GA34.41).
- DSM: O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, produzido pela Associação Psiquiátrica Americana, fornece critérios detalhados para o diagnóstico de transtornos mentais. O TDPM também é reconhecido no DSM-5, sua versão mais recente.
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