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Não confunda transtorno narcisista com comportamento narcisista

Não confunda transtorno narcisista com comportamento narcisista

Nos últimos anos, a proliferação de livros e textos na imprensa sobre saúde mental tem crescido significativamente, o que é uma ótima notícia. Contudo, essa abundância de informações muitas vezes mistura nomenclaturas e conceitos sem considerar os critérios rigorosos de diagnósticos psiquiátricos, o que pode levar os leitores a uma grande confusão. Um exemplo claro disso é a diferença entre Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) e Comportamento Narcisista, dois termos que, apesar de parecerem semelhantes, pertencem a universos conceituais totalmente distintos.

A psicologia, por exemplo, utiliza muitas vezes conceitos e constructos teóricos para compreender a complexidade do comportamento humano. Um desses constructos é o “narcisismo psicológico”, que inclui subtipos como o narcisismo vulnerável. Esses termos são úteis para descrever nuances e variações comportamentais, mas não possuem a mesma formalidade e rigor metodológico dos diagnósticos psiquiátricos e não são diagnósticos de Transtorno Psiquiátrico.

As implicações são imensas. Por exemplo, em contextos judiciais, essa confusão pode levar a medidas protetivas ou afastamentos compulsórios das vítimas. O fato é que o Transtorno Narcisista, quando aplicamos critérios rigorosos de diagnóstico, afeta apenas 1% da população, enquanto pessoas com traços narcisistas podem ser consideradas desagradáveis ou até mesmo tóxicas, mas não se configuram como Transtorno Psiquiátrico.

Quando textos populares misturam esses conceitos, o resultado pode ser uma sopa confusa de termos, onde o leitor é levado a acreditar que está lidando com diagnósticos formais quando, na verdade, está navegando por descrições teóricas e observacionais. Isso é especialmente problemático no caso do narcisismo. O Transtorno Narcisista, conforme definido pelos manuais psiquiátricos, inclui características específicas e mensuráveis, como grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Esses critérios, pelo menos até o momento em que escrevo este texto, são imprescindíveis para que os médicos psiquiatras possam oferecer diagnósticos precisos e tratamentos eficazes.

Já o narcisismo como característica do comportamento, embora baseado em observações úteis do ponto de vista de atendimento clínico, com o objetivo de oferecer orientação e aconselhamento, não possui o mesmo rigor. Denominações como narcisismo grandioso, vulnerável e misto, são “operacionais”, e podem ajudar a entender melhor certas personalidades quando aplicadas em psicoterapia, especialmente auxiliando as vítimas de pessoas com essas características. Mas não são diagnósticos clínicos formalizados.

O narcisismo vulnerável, por exemplo, não é reconhecido como um diagnóstico psiquiátrico, mas sim uma descrição clínica informal ou, em termos técnicos, um constructo, que é um modelo mental elaborado com base em dados simples, gerando observações e percepções individuais que têm origem na experiência de alguém.

Impacto social da confusão

A banalização do termo “narcisista” pode levar à estigmatização de pessoas com traços narcisistas, que podem ser simplesmente indivíduos egocêntricos ou vaidosos, sem necessariamente apresentarem um transtorno de personalidade. Além disso, a supervalorização do diagnóstico de TPN pode levar a um excesso de medicalização e a tratamentos desnecessários. Essa confusão não apenas distorce a percepção pública sobre o que realmente constitui um Transtorno Narcisista, mas também pode prejudicar aqueles que realmente necessitam de uma avaliação e tratamento adequados.

Importância da Avaliação Profissional

Diagnosticar um transtorno de personalidade é uma tarefa complexa que requer uma avaliação cuidadosa por um médico psiquiatra qualificado. Não se deve rotular alguém como “narcisista” apenas com base em comportamentos superficiais ou em informações obtidas em fontes não confiáveis. Uma avaliação profissional garante que todos os aspectos do comportamento e da personalidade do indivíduo sejam considerados, levando a um diagnóstico preciso e a um plano de tratamento adequado.

Solidariedade com as vítimas

É importante reconhecer que as vítimas de pessoas tóxicas ou comportamentos abusivos merecem todo o cuidado e apoio. Essas situações podem causar sofrimento significativo e impacto marcante. No entanto, devemos diferenciar entre comportamento abusivo, danoso, nocivo, e um diagnóstico clínico formal de Transtorno Narcisista. A abordagem terapêutica e o suporte às vítimas devem ser sempre prioritários, mas sem vulgarizar o diagnóstico de Transtorno Narcisista.

O papel da educação

É fundamental educar o público sobre a diferença entre TPN e comportamento narcisista, para que as pessoas possam compreender melhor a complexidade da saúde mental e evitar julgamentos precipitados. Esclarecer essas distinções ajuda a construir um entendimento mais sólido e empático da saúde mental, beneficiando tanto profissionais quanto o público em geral.

Robert Sapolsky, em seu livro clássico sobre estresse “Por que zebras não têm úlceras”, usa uma metáfora que ilustra bem essa questão. Ele compara o banquete do conhecimento a uma mesa onde todos são bem-vindos, desde que tenham bons modos e respeitem o cabelo branco dos convidados mais experientes. Da mesma forma, enquanto psicólogos e psiquiatras têm muito a aprender uns com os outros, é essencial que cada campo respeite as metodologias e os critérios um do outro.

Utilizar uma nomenclatura clara e precisa ajuda a evitar mal-entendidos, garantindo que ninguém imagine que um conceito como narcisismo grandioso, vulnerável e misto, por exemplo, sejam um diagnóstico psiquiátrico, quando não são.

Compreender que Transtorno Narcisista e Comportamento Narcisista pertencem a esferas do conhecimento totalmente distintas pode evitar confusões e assegurar que cada pessoa receba a informação e o tratamento mais adequados às suas necessidades.

Assim, como em um banquete bem organizado, cada conceito tem seu lugar e sua importância, contribuindo para um entendimento mais claro e abrangente do comportamento humano, suas variáveis e sua patologia.

Dr Cyro Masci - autor 1
Autor: Dr. Cyro Masci
CREMESP 39126
Psiquiatra RQE CFM 9738
Psiquiatria Integrativa

Não confunda transtorno narcisista com comportamento narcisista

Não confunda transtorno narcisista com comportamento narcisista

Nos últimos anos, a proliferação de livros e textos na imprensa sobre saúde mental tem crescido significativamente, o que é uma ótima notícia. Contudo, essa abundância de informações muitas vezes mistura nomenclaturas e conceitos sem considerar os critérios rigorosos de diagnósticos psiquiátricos, o que pode levar os leitores a uma grande confusão. Um exemplo claro disso é a diferença entre Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) e Comportamento Narcisista, dois termos que, apesar de parecerem semelhantes, pertencem a universos conceituais totalmente distintos.

A psicologia, por exemplo, utiliza muitas vezes conceitos e constructos teóricos para compreender a complexidade do comportamento humano. Um desses constructos é o “narcisismo psicológico”, que inclui subtipos como o narcisismo vulnerável. Esses termos são úteis para descrever nuances e variações comportamentais, mas não possuem a mesma formalidade e rigor metodológico dos diagnósticos psiquiátricos e não são diagnósticos de Transtorno Psiquiátrico.

As implicações são imensas. Por exemplo, em contextos judiciais, essa confusão pode levar a medidas protetivas ou afastamentos compulsórios das vítimas. O fato é que o Transtorno Narcisista, quando aplicamos critérios rigorosos de diagnóstico, afeta apenas 1% da população, enquanto pessoas com traços narcisistas podem ser consideradas desagradáveis ou até mesmo tóxicas, mas não se configuram como Transtorno Psiquiátrico.

Quando textos populares misturam esses conceitos, o resultado pode ser uma sopa confusa de termos, onde o leitor é levado a acreditar que está lidando com diagnósticos formais quando, na verdade, está navegando por descrições teóricas e observacionais. Isso é especialmente problemático no caso do narcisismo. O Transtorno Narcisista, conforme definido pelos manuais psiquiátricos, inclui características específicas e mensuráveis, como grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Esses critérios, pelo menos até o momento em que escrevo este texto, são imprescindíveis para que os médicos psiquiatras possam oferecer diagnósticos precisos e tratamentos eficazes.

Já o narcisismo como característica do comportamento, embora baseado em observações úteis do ponto de vista de atendimento clínico, com o objetivo de oferecer orientação e aconselhamento, não possui o mesmo rigor. Denominações como narcisismo grandioso, vulnerável e misto, são “operacionais”, e podem ajudar a entender melhor certas personalidades quando aplicadas em psicoterapia, especialmente auxiliando as vítimas de pessoas com essas características. Mas não são diagnósticos clínicos formalizados.

O narcisismo vulnerável, por exemplo, não é reconhecido como um diagnóstico psiquiátrico, mas sim uma descrição clínica informal ou, em termos técnicos, um constructo, que é um modelo mental elaborado com base em dados simples, gerando observações e percepções individuais que têm origem na experiência de alguém.

Impacto social da confusão

A banalização do termo “narcisista” pode levar à estigmatização de pessoas com traços narcisistas, que podem ser simplesmente indivíduos egocêntricos ou vaidosos, sem necessariamente apresentarem um transtorno de personalidade. Além disso, a supervalorização do diagnóstico de TPN pode levar a um excesso de medicalização e a tratamentos desnecessários. Essa confusão não apenas distorce a percepção pública sobre o que realmente constitui um Transtorno Narcisista, mas também pode prejudicar aqueles que realmente necessitam de uma avaliação e tratamento adequados.

Importância da Avaliação Profissional

Diagnosticar um transtorno de personalidade é uma tarefa complexa que requer uma avaliação cuidadosa por um médico psiquiatra qualificado. Não se deve rotular alguém como “narcisista” apenas com base em comportamentos superficiais ou em informações obtidas em fontes não confiáveis. Uma avaliação profissional garante que todos os aspectos do comportamento e da personalidade do indivíduo sejam considerados, levando a um diagnóstico preciso e a um plano de tratamento adequado.

Solidariedade com as vítimas

É importante reconhecer que as vítimas de pessoas tóxicas ou comportamentos abusivos merecem todo o cuidado e apoio. Essas situações podem causar sofrimento significativo e impacto marcante. No entanto, devemos diferenciar entre comportamento abusivo, danoso, nocivo, e um diagnóstico clínico formal de Transtorno Narcisista. A abordagem terapêutica e o suporte às vítimas devem ser sempre prioritários, mas sem vulgarizar o diagnóstico de Transtorno Narcisista.

O papel da educação

É fundamental educar o público sobre a diferença entre TPN e comportamento narcisista, para que as pessoas possam compreender melhor a complexidade da saúde mental e evitar julgamentos precipitados. Esclarecer essas distinções ajuda a construir um entendimento mais sólido e empático da saúde mental, beneficiando tanto profissionais quanto o público em geral.

Robert Sapolsky, em seu livro clássico sobre estresse “Por que zebras não têm úlceras”, usa uma metáfora que ilustra bem essa questão. Ele compara o banquete do conhecimento a uma mesa onde todos são bem-vindos, desde que tenham bons modos e respeitem o cabelo branco dos convidados mais experientes. Da mesma forma, enquanto psicólogos e psiquiatras têm muito a aprender uns com os outros, é essencial que cada campo respeite as metodologias e os critérios um do outro.

Utilizar uma nomenclatura clara e precisa ajuda a evitar mal-entendidos, garantindo que ninguém imagine que um conceito como narcisismo grandioso, vulnerável e misto, por exemplo, sejam um diagnóstico psiquiátrico, quando não são.

Compreender que Transtorno Narcisista e Comportamento Narcisista pertencem a esferas do conhecimento totalmente distintas pode evitar confusões e assegurar que cada pessoa receba a informação e o tratamento mais adequados às suas necessidades.

Assim, como em um banquete bem organizado, cada conceito tem seu lugar e sua importância, contribuindo para um entendimento mais claro e abrangente do comportamento humano, suas variáveis e sua patologia.

Dr Cyro Masci - autor 1
Autor: Dr. Cyro Masci
CREMESP 39126
Psiquiatra RQE CFM 9738

Dr. Cyro Masci
CREMESP 39126
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